Mundano usa lama de Brumadinho para pintar mural em homenagem às vítimas

O artista conhecido como “Mundano” pintou próximo ao Mercadão de São Paulo uma releitura do famoso quadro “Operários” de Tarsila do Amaral, a tinta foi confeccionada com a lama tóxica de Brumadinho.
Há pouco mais de um ano, mais especificamente no dia 25 de janeiro de 2019 o desastre de Brumadinho (MG) figurava entre os principais assuntos no mundo. Cerca de 11,7 milhões de m³ de rejeitos da mineradora Vale encobria mais de 270 pessoas, 4000 mil animais e muitos hectares de Mata Atlântica nativa, e essa é só a estimativa.
A lama atingiu principalmente o sistema hídrico da região, poluindo profundamente os rios Paraopeba, seus afluentes e o próprio Rio São Francisco.
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Em um vídeo explicativo, Mundano demonstra como foi usada a tinta e qual é o resultado de aproximar um imã da lama de Brumadinho, coletada próximo ao Córrego do Feijão.
A tinta a base de lama tóxica
Para confeccionar a tinta especial, Mundano visitou o Córrego do Feijão, um dos locais mais afetados pela lama da Vale. O artista coletou, segundo o jornal Estado de Minas, cerca de 250 kg de lama do leito do Rio Paraopeba para produzir a tinta.
A lama então foi misturada com outros componentes para formar a tinta, como água, cola e base acrílica. O resultado impressionante que, segundo o próprio artista foi um desafio pessoal, são 15 tonalidades confeccionadas com os rejeitos minerais.
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O mural “Operários de Brumadinho” que figura na lateral de um prédio no centro de São Paulo possui cerca de 750 m², e foi inspirada na obra “Operários” de Tarsila do Amaral. O painel de Mundano compõe a série #ReleiturasMundanas juntamente de outras três pinturas, todas confeccionadas com tinta à base de rejeitos minerais coletados em Brumadinho.
O projeto de Mundano
Segundo um post do autor em seu instagram oficial, o fato da obra ser confeccionada em São Paulo e não em Minas Gerais e ainda utilizar de recursos públicos para custeio o incomodava.
Mesmo assim, abrindo mão do seu cache e complementando o orçamento da operação com recursos próprios, Mundano viu “uma oportunidade única para hackear e fazer uma homenagem potente com um tema de interesse público e que saísse da bolha de São Paulo”.
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“O recurso da Secretaria de Cultura de São Paulo para o projeto foi de 50 mil reais e eles foram essenciais mas insuficientes de tão complexa e custosa que foi a operação toda, e aproveito pra deixar registrado aqui que além de renunciar cachê eu tive que investir recursos próprios pra poder fazer algo dessa magnitude (…)” “Percebi que o povo paulistano, em sua maioria, é meio alienado sobre o tema mineração e essa cidade em volta do prédio Minerasil onde pintei a releitura foi boa parte construído com minérios oriundos de Minas Gerais.”
Mundano lançou no youtube um mini doc que, segundo ele, será legendado em inglês em breve.